A Semana Fashion Revolution – Brasília promoveu o Seminário Perspectivas para a Moda Consciente no Brasil, realizado no Auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, no dia 24 de abril de 2018, Dia D da Revolução da Moda. O evento teve o apoio da Segunda Secretaria da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
O seminário reuniu especialistas de várias áreas para falar sobre a cadeia produtiva da moda. Um dos painelistas foi o biólogo geneticista Wagner Lucena, pesquisador da Embrapa desde 2002. Ele desenvolve há mais de 15 anos pesquisas para a melhoria da competitividade do algodão brasileiro, incluindo o controle de insetos-praga e fitopatógenos e características especiais da fibra.
A apresentação Algodão agroecológico: viabilidade técnica e econômica abordou o sistema de produção de algodão orgânico e o desenvolvimento de variedades comerciais adaptadas às diferentes áreas de cultivo. Lucena apresentou o Mapa da Evolução dos Conceitos focado na agricultura.
Foto: Will Shutter / Acervo / Câmara dos Deputados
“A tecnologia, num processo de inovação, tem legitimidade perante à sociedade, quando o contexto é a referência para inspirar as iniciativas de uma proposta; a interação é a estratégia para atuar nesta realidade, e a ética é o compromisso com a sustentabilidade de todas as formas e modos de vida.” Wagner Lucena, Embrapa
Lucena falou sobre iniciativas de manejo cultural do algodoeiro agroecológico no semiárido brasileiro. Ele destacou o aprimoramento do sistema produtivo de algodão agroecológico em consórcios agroalimentares. O projeto consiste em uma pesquisa participativa para promover o fortalecimento e expansão do algodão agroecológico em consórcios agroalimentares no Semiárido Brasileiro, com perspectivas de desenvolvimento das organizações sociais de base familiar e aproximação através da inserção qualificada de agricultores no comércio justo e mercado orgânico como estratégia de sustentabilidade.
O objetivo dessa iniciativa da Embrapa é desenvolver em comunidades e assentamentos, com a participação de projetos e instituições parceiras, a experiência inovadora de expansão do cultivo de algodão em consórcio agroecológico, combinando de forma equilibrada:
A produção de pluma orgânica de algodão a ser comercializada no mercado orgânico e comércio justo, nacionais e internacionais.
A geração de renda a partir de outros cultivos com fins comerciais
A segurança alimentar das famílias através de cultivos como o milho, feijão e outras culturas alimentares.
A produção de protetores naturais como o nim; e a utilização de “plantas isca” como o gergelim para controle de pragas do algodoeiro.
A conservação dos recursos naturais envolvidos na produção (água, solo, biodiversidade)
Lucena também falou sobre o Núcleo de Agroecologia para Construção de Modos de Vida Sustentáveis no Semiárido Brasileiro. O projeto tem o objetivo de construir a base de aprendizado para a formação e o fortalecimento de Núcleos de Referência em Agroecologia nas comunidades: Irapuá (CE), Quilombo Serra Feia (PB) e Pilãozinho (PE). Além de projetos de desenvolvimento de comunidades a Projetos de Vida Comunitários (construídos coletivamente) em Serra Talhada-PE, Nova Russas-CE e Cacimbas-PB
Outros temas abordados pelo biólogo foram Certificação Orgânica, Produção em Conformidade Orgânica, Controle Social e Registro da Conformidade Orgânica e Mercado Diferenciado. Ele comentou a atuação da Embrapa da sustentabilidade da agricultura à sustentabilidade dos modos de vida dos quais a agricultura é parte constitutiva (algodão, feijão, milho, gergelim, cebolinha e coentro).
A atuação da Embrapa promove o acesso dos agricultores atendidos ao mercado justo. No Assentamento Margarida Maria Alves, por exemplo, quando cultivavam o algodão convencional, a comercialização era um momento cheio de incertezas. Mas, com as máquinas descaroçadoras e o selo de certificação orgânica, isso mudou. O algodão, antes vendido com a semente aos atravessadores, passou a ser vendido em pluma diretamente às indústrias têxteis. A abertura dos canais de comércio justo, influenciada pela crescente demanda por produtos que atendam ao tripé da sustentabilidade ambiental, social e econômica, estimulou a aproximação.
Outro ganho para essa comunidade é que a gestão coletiva despertou o interesse dos jovens. Esse fenômeno foi favorecido pela instalação e funcionamento de um telecentro na sede da associação comunitária, fruto de parceria com o Ministério das Comunicações, a Rede Nacional de Mobilização Social (COEP) e outras entidades. Os jovens usuários, desejosos de ter voz nas decisões sobre os critérios para utilização dos computadores com internet, acabaram por se sentirem estimulados a participarem das reuniões da associação.
Homens e mulheres, lado a lado, foi outro ganho comunitário. A baixa assiduidade nas reuniões e assembleias da associação foi superada, sobretudo por parte das mulheres. A desmotivação se intensificava pelo temor dos males causados pelos agrotóxicos, que acarretava o pouco envolvimento na lavoura da área comum e, consequentemente, na gestão dos interesses coletivos como um todo. Todavia, as mulheres não se envolvem nas capinas e no beneficiamento, ainda considerados reduto dos homens.