
Esta semana, a Rainha Elizabeth II começou a trabalhar com o 14º primeiro-ministro durante o seu reinado, que começou em 1952. O conservador Boris Johnson, excepcionalmente penteado, recebeu a tarefa de conduzir o governo em nome da soberana. O primeiro pronunciamento do novo líder afirmou que o Brexit foi uma decisão fundamental do povo britânico e é preciso respeitá-la, com ou sem acordo e que não há senões aceitáveis.
Em seguida, o primeiro-ministro passou a nomear seu Gabinete, o Executivo, que será marcado por perfis eurocéticos duros nos postos-chave e uma aposta na diversidade étnica e de gênero para vender uma visão otimista e rejuvenescida do Brexit à “Grã-Bretanha moderna”.
Um dos possíveis membros da equipe de assessores de Downing Street é o polêmico Dominic Cummings – só confirmada extraoficialmente. Será a ressureição da carreira do chefe da campanha Vote Leave (vote para deixar) no referendo de 2016, tema de um telefilme sobre o marketing e uso de recursos informáticos dúbios para seduzir os eleitores. Foi dele a ideia de vender o Brexit com a mentira, estampada em um ônibus, de que a saída da UE garantiria centenas de milhões de libras para a saúde pública.

Com ou sem Brexit, ao longo dos últimos 70 anos, o estilo ultraclássico de Elizabeth II se manteve fiel à sua personalidade e ao cargo na monarquia britânica, com conforto e funcionalidade. Simbolicamente, a vestimenta real reflete o seu papel na democracia do Reino Unido, de neutralidade e tradição. A sobriedade colorida em contraste com a extravagância estudada da própria figura do novo primeiro-ministro, com cabelo louro-quase-branco cuidadosamente desgrenhado, permanente sorriso matreiro, terno azul amarrotado, montado na bicicleta e de mochila pendurada no ombro.
A chefe de Estado do Reino Unido tem papel cerimonial, incluindo algumas tarefas oficiais, como proferir o Queen’s Speech e inaugurar os trabalhos do Parlamento anualmente e determinar as políticas do próximo período de governo. É uma participação simbólica do processo político de uma instância isolada do Poder Executivo no país. A Coroa tem a Prerrogativa Real de atuar em diversas esferas, desde a emissão de passaportes até uma eventual demissão do gabinete. Na prática, as ações da monarca limitam-se às ‘recomendações’ ao Gabinete que comanda o Parlamento.
Vestidos largos, cores exuberantes, chapéus clássicos, luvas de algodão e náilon, os mesmos modelos de sapatos e a bolsa de mãos, além dos broches que se destacam. O outfit real se mantém por décadas. Elizabeth II usa peças com zíper e as mangas, preferencialmente, de comprimento três quartos. As barras dos vestidos sempre ultrapassam os joelhos e ela nunca tira o casaco em público. O uso de tons vivos e visual monocromático é para destacá-la da multidão. O esmalte deve ter cores neutras e claras. O uso de meias-calças nudes ou em tom semelhante ao da roupa faz parte do protocolo real.
Para os sapatos, os saltos não podem ultrapassar seis centímetros (2 ¼ inches, na medida inglesa). De tamanho prático, os modelos pretos que usa mais vezes ganham reforço na sola e ficam ainda mais confortáveis. São fabricados em couro de bezerro, nas cores preta, bege ou azul. Há três diferentes designs para cada modelo: em cetim, prata ou ouro. Funcionários amaciam os calçados novos. A marca favorita da rainha é a Anello & Davide of Kensington, que usa há 50 anos. As peças são detalhadas e feitas à mão por quatro pessoas para cada par.
A soberana está sempre carregando uma clutch ou um buquê de flores em compromissos oficiais para deixar as mãos sempre ocupadas e manter o protocolo real para evitar que súditos toquem suas mãos inadvertidamente. Ela tem mais de 200 bolsas da marca Launer e os modelos que mais gosta são o Royale e o Traviata. É pela bolsa que se comunica com a equipe, quando cansou de conversar com alguém, troca a bolsa do braço esquerdo para o direito. Para que um jantar termine, coloca o acessório sobre a mesa.
As luvas da rainha medem 15 centímetros e são da marca Cornelia James desde 1947. Os lenços reais têm que ser Hermès. Os chapéus devem ter o tamanho certo para não esconder seu rosto. Em todas as ocasiões formais, é preciso usar chapéu até as 18h. A partir desse horário, apenas mulheres casadas podem usar tiaras e coroas. Ela seleciona guarda-chuvas transparentes – para que os súditos vejam seu rosto e os fotógrafos possam registrar seu semblante – e as bordas e cabos são de cores que combinam com o visual.
O guarda-roupas de Elizabeth II foi assunto do livro Dressing the Queen (Vestindo a Rainha, em tradução livre), lançado em 2012 e ainda não disponível em português. Na obra, Angela Kelly, personal stylist da soberana desde 1994, conta em primeira pessoa alguns dos detalhes do estilo meticulosamente cuidado de uma das mulheres mais fotografadas do mundo.
A rainha sugere os tecidos para suas roupas e a estilista pessoal desenha quatro esboços para cada tipo de tecido. Após a escolha, a peça começa a ser desenvolvida. Na alfaiataria do Palácio de Buckingham, tudo é preparado para melhor atender Elizabeth. Os tecidos, chiffon, seda ou a organza, os mais usados por ela, são segurados ao vento para analisarem o caimento, para não correr o risco do efeito Marilyn Monroe.
Um time de estilistas cuida dos conjuntos e vestidos monocromáticos da rainha, que são elaborados com, no mínimo, seis meses de antecedência. Os modelos nunca se repetem e as cores e tecidos variam de acordo com as ocasiões, condições climáticas e gosto pessoal da soberana. As dobras são evitadas em suas roupas, assim, pequenos pesos são inseridos dentro das bainhas, de modo que o vestido sempre caia bem, principalmente quando Elizabeth desce de um carro.
Mesmo tendo um porta joias pessoal milionário, formado por joias de herança e muitos presentes, Elizabeth usa poucas peças da coleção. Quase sempre opta por brincos e colares de pérolas. Outro acessório marcante do seu look são os broches. E desde a morte do pai, o rei Jorge VI, quando ela estava em uma viagem pela África e, ao chegar à Inglaterra, não tinha roupa preta para desembarcar de luto, ficou estipulado que todo membro da família real deve ter uma peça preta na bagagem.
Melhor Impressão
Na série The Crown, da Netflix, o oitavo episódio da primeira temporada tem uma cena informativa para a relação do vestuário da soberana com os interesses do governo. Em 1954, em plena disputa por Gibraltar, a rainha se preparava para uma viagem pela Commonwealth, organização intergovernamental composta por 53 países independentes na qual a monarca ocupa a posição cerimonial de chefe. Além disso, ela é soberana de 16 desses membros.
No episódio, um funcionário do Palácio de Buckingham apresenta à jovem rainha o enxoval da extensa viagem, que duraria seis meses: 100 vestidos, 36 chapéus e 50 pares de sapatos. Bermudas em organza, crepe de Chine e seda shantung para suportar o calor da Jamaica, Austrália, Ceilão (hoje Sri Lanka) e Uganda. As estampas reproduzem ramos de flores nativas originais de cada local visitado. Em Sidney, ela desembarcou com um vestido branco de organza salpicada de acácias amarelo-claro.
No seriado baseado em fatos reais, Elizabeth II argumenta que o número de peças é um pouco demais e sugere que pode ser feita economia. O súdito explica que a orientação do alto escalão do governo é causar uma boa impressão da Grã-Bretanha. A melhor impressão.

Sete décadas de Reinado
Desde que subiu ao trono, a rainha Elizabeth forjou uma parceria com o primeiro-ministro e a primeira-ministra de cada época. E os registros de cada uma dessas fases traçam um panorama histórico da vestimenta real desde a década de 1950 até hoje. Foram 12 primeiros-ministros e duas primeiras-ministras. Confira a galeria e veja que o estilo da monarca é clássico e coerente.














Com informações de Town & Country, M de Mulher , Capricho, Veja, Blog Waufen, Público